09 março 2014

O livro

Habituaste-me, desde os primeiros olhares, à tua presença constante na minha vida. E, num sopro fugaz deixaste-me nos dias que passaram, e hoje sobra-me nada. Nada, sim, porque tu sempre significaste tudo, mais do que algum dia possas vir a compreender. E ainda só se passaram dois dias, onde as horas passam ao ritmo de meses. Não me peças para ser indiferente a todas as pétalas caídas no chão do quarto, que guardam memórias, as nossas memórias. Nesses tempos eu acreditei que daí em diante nada mais seria meu, mas nosso E desejei, cegamente, que crescêssemos juntos e construíssemos a nossa história todos os dias. Esta história porém nunca chegou a ser escrita por ambos; escreveste apenas no meu livro, e deixaste marcas, cicatrizes que dificilmente sararão. Ao reler essas mesmas páginas voo novamente nas asas da esperança disfarçada de ilusão. A dor chega quando nas páginas ainda em branco, tu não estás presente, nem pela vontade de um dia voltar a estar. Magoa-me a indiferença e a facilidade com que me apagaste da tua vida; fui apenas só mais um brinquedo nas tuas mãos, quando tu para mim significaste a razão de viver. Fizeste-me renascer para a vida. Lamento que o orgulho e as diferenças entre nós tenham tido mais força que o teu amor por mim. Tenho saudades tuas; não me ensinaste a viver sem ti.

08 março 2014

Alicerces de areia

Acontece. Acontece todos os dias, e está presente na história da humanidade:
Por vezes construímos sonhos, idealizamos um futuro e planeamos inúmeros acontecimentos que queremos viver, mas acima de tudo partilhar com essa mesma pessoa. E essa pessoa demora a chegar, passamos muitas vezes anos de espera, aguardando a sua chegada. Desenhamos o mundo à nossa maneira e inventamos um possível futuro. E pela primeira vez somos nós mesmos sem medo, e baixamos todas as defesas e entrega-mo-nos de corpo e alma. Inocentemente, acreditamos que nada pode fazer tremer os pilares que dia a dia têm sido construídos: não existe nada nem ninguém que destrua tal magia. Há sempre um dia em que, pela primeira vez, nos encontramos com o amor, e amamos, amamos sem medida.
O pior é, contudo, quando nos enganamos nessa mesma pessoa. E por melhor que tenham sido os momentos vividos, chega sempre o dia em que acordamos para a vida real, aquele dia em que todas as divergências se mostram mais fortes que esse suposto amor. Afinal, quando se ama deixamos de ser o 'eu' para ser o 'nós'. O dia em que percebemos que nunca foi amor que recebemos. De facto existiram trilhos que se cruzaram, mas se realmente tivesse sido amor mútuo, esses caminhos ter-se-ião unido até à eternidade. E dói olhar o espelho do passado e ver tantas, tantas mentiras. E chega a consciência que amámos em vão, e que somos nada para o outro alguém.
E foi assim que aconteceu.
Amanhã começa um novo capítulo, que espero desta vez ter um final feliz, com alicerces construídos em aço.