27 novembro 2010

A nossa história pessoal

Todos devemos fazer um esforço, para nos distanciarmos daquilo que nos forçaram a ser. Tentar abandonar o mais possível a história que nos contaram. Quando eu não tive nada a perder recebi tudo. Quando deixei de ser quem era encontrei-me a mim mesma. Quando conheci a humilhação e mesmo assim continuei a seguir em frente compreendi que era livre para gerir o meu destino. Por isso, é tão importante deixarmos as coisas desaparecerem, irem embora, esfumarem-se. Na vida, ninguém joga com as cartas marcadas; umas vezes ganhamos outras vezes perdemos. Não devemos esperar que nos devolvam algo, não devemos esperar que reconheçam o nosso esforço, desculparem o nosso génio, ou compreenderem o nosso amor. Isso é deprimente e angustiante. Devemos encerrar ciclos. Não por orgulho ou incapacidade, mas porque aquilo simplesmente, já não se encaixa na nossa vida. Devemos fechar a porta, mudar o disco, sacudir o pó. É sempre necessário saber quando uma etapa chegou ao fim, fechando portas, terminando capítulos. Não importa que nome lhe atribuirmos. O que importa, é deixar no passado o que é do passado. Deixar lá os momentos da vida, que já acabaram. Nunca podemos voltar atrás, e fazer as coisas voltarem a acontecer. Devemos ter a capacidade de parar, deixarmos de ser quem éramos para nos transformarmos naquilo que realmente somos. Ao longo da nossa caminhada terrena, devemos deitar fora a bagagem desnecessária e conservar apenas aquilo que é importante para viver cada dia. Não sofro pelas dificuldades vividas, nem lamento o que passei, porque foram elas que me ajudaram a ser o que sou hoje. Sinto-me, como um jogador se deve sentir, depois de ter passado por anos de treino, ou como o guerreiro, agindo com intuição e técnica. Reconheço que a nossa condição humana, apenas nos deixa compartilhar aquilo que temos de melhor, porque estamos sempre em busca da aceitação e do amor. O que escrevo e quando escrevo, descubro e identifico, a ponta visual de uma montanha entre as nuvens, ou uma ilha no oceano. O Sol, bate ali e tudo parece bonito e no seu lugar, mas, por baixo dessa superfície, existe o desconhecido, as trevas, a incessante busca de mim mesma. Quero viver o presente intensamente. Viver cada dia o melhor possível. Justificar perante a sociedade a razão de termos nascido. Conheço muitas pessoas, sobretudo a partir de determinada idade, que deixam de viver; embora continuem a trabalhar, a comer, e até a ter as suas actividades sociais.
Mas vivem sem alegria, sem entusiasmo. Fazem tudo por obrigação, sem compreenderem, a magia que cada dia trás em si, sem pararem para pensar, no milagre da vida, sem compreenderem que o próximo minuto, pode ser o último vivido neste planeta. Às vezes pergunto a mim mesma, porque as pessoas são infelizes. De facto, toda a gente acredita que o objectivo da vida, é seguir um plano. O que ninguém se interroga, é se esse plano é seu, ou se foi criado por outra pessoa. Acumulam-se experiências, memórias, coisas, ideias dos outros e
esquecem-se dos sonhos. Será que as pessoas sabem o que querem e precisam? Penso que sim.
Muitas vezes ouvimos comentários; passei pela vida e não fiz nada que gostaria de ter feito;. Se dizem que não fizeram o que desejavam, sabiam então o que queriam. Quanto à realidade, é apenas a história, que os outros contaram a respeito do mundo e de como nos devíamos comportar nele. O conhecimento acumulado, serve para cozinhar, não gastar mais do que se ganha, proteger-se no Inverno, respeitar alguns limites, saber para onde vão certas linhas de comboio e autocarro, etc., etc. Será que os nossos amores passados nos ensinaram a amar melhor? A sermos felizes? Não acredito. Pelo contrário, para amar, temos sempre que curar as cicatrizes provocadas pelo amor anterior, o que nem sempre acontece. Para que a verdadeira energia, possa atravessar a nossa alma, ela tem que se encontrar como se tivesse acabado de nascer. Devemos ter a força suficiente, para esquecer a nossa história pessoal, e como alguém me disse um dia, manter o canal limpo, para que a energia do amor se manifeste na sua plenitude.
É muito romântico, mas muito difícil de conseguir. Porque essa energia está sempre presa a muita coisa: compromissos, filhos, situação social, etc. Surge então o desespero, medo, solidão e a tentativa de controlar o incontrolável. Todos devemos fazer um esforço, para nos distanciarmos daquilo que nos forçaram a ser. Tentar abandonar o mais possível a história que nos contaram. Repetir esta história antiga em voz alta, até aos íntimos pormenores, até que ela já não seja importante para nós. E à medida que essa história antiga desaparece, devemos preencher os espaços vazios, com coisas que nos dêem prazer e alegria; com histórias diferentes, experiências com que sempre sonhamos, mas que nunca ousamos ter. Só assim, mudamos. Só assim, o amor cresce e nós crescemos com ele. Talvez assim , nos aproximemos da nossa realização pessoal, e possamos ficar preparados e disponíveis, para vivermos alguns momentos de felicidade.

Clube de Cultura e Desporto do Ribeirão

11 novembro 2010

Novelo de sentimentos

Porque quando tu vens, eu fujo; quando eu volto, tu corres; se estás aqui, eu escondo-me ali; se te tento procurar, tu voas: onde nos irão levar todas estas inúteis fugas? Entrelaçados por fios de timidez, desejo, angústia, desespero e pequeníssimos relances de coragem, perdemos a cada minuto mais um dos que poderiam ser os nossos momentos, esperando um pelo outro, no mesmo nó irreversível.
E no relógio os ponteiros circulam apressadamente em busca do nada e realçam o quanto deixamos ir. É então que tu chegas, e o mundo, oh o mundo, muda ...
O clic-cloc é agora mais lento que as batidas do coração num filme em câmara lenta, e perco a noção dos sentidos e da razão. Sobre o nosso palco somos as únicas personagens da história da nossa vida, peça que jamais terminará. Trocam-se olhares místicos que se completam no fundo da alma a que na verdade pertencem, e alcançam-se; é então segredada, como uma palavra muda, o 'amo-te' na sua real força, onde só tu e eu, ou melhor, nós, entendemos. Os sorrisos pairam no ar, o coração bate descontroladamente, e eu sei, sem justificação aparente que tua meu lugar é em ti.
Agora vem, passo a passo, e trás quem tu és, com todos os defeitos, qualidades e a tua maneira de ser. Vem, e segura a minha mão, que já está à tua espera; vem, e vamos voar; vem, e jamais te largarei, prometo.

04 novembro 2010

Um dia, o mais provável é tornares-te num chato, deixares de sair à noite e começares a levar-te demasiado a sério.
Nesse dia, vais começar a vestir cinzento e bege, pedir para baixar o volume da música e deixar a tua guitarra a apanhar pó. Vais tornar-te politicamente correcto, socialmente evoluído, economicamente consciente. Vais achar que tens de ir para onde toda a gente vai e assumir que tens de usar fato e gravata todos os dias.
Nesse dia, vais deixar de beijar em publico, as tuas viagens serão mais vezes no sofá e dormirás menos ao relento.
É oficial.
Vais entrar na idade do chinelo e deixar de ser quem foste até então. Vais deixar de te sentar ao colo dos amigos e vais esquecer-te de como se faz um quantos-queres ou um barco de papel. Vais ficar nervosinho se não trocares de carro de quatro em quatro anos e desatinar se o hotel onde estiveres não te der toalhas para o teu macio e hidratado rosto. Vais tornar-te muito crescido e começar a preocupar-te com tudo e com nada e a não fazer nada porque "vai-se andando" e a vida é mesmo assim. Vais dizer não mais vezes, vais ter mais medo, vais achar que não podes, que não deves, que tens vergonha.
Vais ser mais triste.
Nesse dia, o mais provável é que também deixes de beber refrigerantes.
Fica uma dica : quando esse dia chegar, não lhe fales.
Mantém-te original.
(by Sumol)

Por detrás de mim

Perdida algures por entre os ramos da vida, perdi a noção do tempo, do espaço. Quem sou eu? Porque estou aqui? O que faço neste lugar? Para onde vou? Para que vivo?
Hoje recordo-me desses tempos escuros e coloridos. Na verdade magoam-me; e deixam saudade. Foram noites ao relento, dias a caminhar por uma estrada sem fim, onde a minha vida se resumia em simples perguntas cujas respostas pareciam demasiado grandes para qualquer ser humano. Foi então que tu chegaste, e de mãos dadas percorremos hoje a mesma vereda. E digam o que quiserem, mas hoje eu sei (e ninguém me contou) que o amor é a arma mais poderosa, e louco aquele que alguma vez imaginar sequer que o consegue destruir.
Os teus simples gestos, os teus olhares sinceros, os teus ingénuos toques, o teu perfume viciante, ou, melhor dizendo, tudo o que está directa ou indirectamente ligado a ti esclareceram o meu coração acerca do motivo de cada batida. No fundo, tu és o meu caminho, aquele que me levará até mim quando finalmente me reconhecer no meu próprio reflexo.

03 novembro 2010

João ♥

«Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar ... »

(Alberto Caeiro, in O meu olhar é nítido como um girassol)